Acabei de assistir novamente ao clássico Melhor é impossível, filme de James L. Brooks com Jack Nicholson. À primeira vista, o filme aborda com humor e leveza o TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo. Mais atentamente, entretanto, percebemos que o filme trata (nos dois significados da palavra) de todos nós, pois demonstra como nosso envolvimento com alguém, alguma atividade, com o mundo, pode empurrar-nos para além do que acreditávamos ser.
Um dos rituais do personagem principal era conferir obsessivamente se havia trancado seu apartamento. Em certo momento, assusta-se ao perceber que esqueceu de trancá-lo. Por que isso ocorreu? Porque outras áreas de sua vida cresciam, tomavam espaço, sem pedir-lhe permissão, como um presente aceito, mesmo que de má vontade, pois ele teria que arriscar-se no desconhecido. Foi surpreendido ao ser conquistado por um cachorro, que despertou no rabugento, um homem capaz de afeto. Daí, para reconhecer seu amor pela garçonete, antes considerada apenas muito eficiente, foi um passo. Confrontado com o amor, aceitou-o. Ele não era mais somente o seu TOC. Sua doença tornou-se apenas parte de sua vida. Agora também era um homem apaixonado, sonhador, surpreso e atrapalhado vendo seu mundo crescer.
Apesar de não haver no filme nenhuma referência à psicoterapia, terapeutas poderiam aprender muito com ele. Mais do que querer eliminar apressadamente um sintoma, o trabalho psicoterapêutico pode tratar da vida, cuidar das brechas, da nossa capacidade de descobrir e aproveitar as oportunidades no que a vida nos apresenta! Bom proveito!
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