No dia 3 de outubro de 2013, foi publicada uma reportagem, na capa do caderno Ciência do Jornal Folha de São Paulo, sobre uma empresa americana que registrara a patente de um teste de DNA. O exame permitiria a receptores de óvulos e espermatozoides doados escolherem características do bebê a ser gerado. Estas iriam desde a cor dos olhos à chance menor de altos gastos com saúde do futuro filho. A reportagem expunha como o progresso científico tem intensificado nosso poder de controle em todas as áreas do conhecimento.
Após ler a reportagem, fiquei presa às palavras "cor dos olhos... cor dos olhos... cor- dos-o-lhos!". Imaginei pesquisadores, médicos e pais animados por poderem escolher a cor dos olhos dos filhos e desanimei.
Para que tanto controle e tentativa de transformar tudo em produto, em um padrão ideal pré-determinado a ser alcançado, de beleza, comportamento, sucesso, felicidade, família e etc?
A própria ciência nasce do encantamento, da vontade de decifrarmos fenômenos da natureza e mostra-nos que somos um sopro, um pontinho do pontinho da imensidão do universo.
Apesar de não termos controle do que sentimos ou do que a vida nos dá, sejam as características físicas e emocionais de um filho ou a perda de um filho ou um amor inesperado, podemos iniciar algo a partir do que nos é dado. Somos contínuos co-autores de nossas histórias, parceiros da realidade, redescobridores de nossas possibilidades. Na ânsia pelo filho "ideal" (escolher a cor dos olhos?!) os pais perdem, já na largada, a oportunidade de aprender que cuidar é acolher o filho real com seus limites e possibilidades. A ânsia ingênua por esse controle pode nos enfraquecer. Como escreveu Guimarães Rosa “tudo quanto há, nesse mundo, é porque carece e se merece”. Muito longe de transmitir uma ideia fatalista, a frase enaltece a maior potência humana, a de conseguirmos acolher o que vier com seriedade e confiança para descobrirmos novas possibilidades nas nossas vidas. Na reportagem citada, a médica entrevistada alertou: “Filhos não são bonecos!”. Nossa limitação em relação aos nossos filhos (de olhos castanhos, azuis, amarelos) é, aliás, a primeira lição que qualquer pai e mãe logo nas primeiras cólicas do recém-nascido começa a aprender.
É preciso acolhimento e confiança para a aventura do cuidado.
Boa aventura!
Adorei!
Incrível!!!